segunda-feira, 5 de abril de 2010

Serra pode / Dilma não pode

Absurdo e destemperança do PSDB – e de toda a direita
Por Claudio Ritser

Segundo a reportagem da Folha de São Paulo, o PSDB entrou, ainda em 2009, com representações contra o PT e contra a Dilma, por entender 1) que o PT fez campanha antecipada e 2) por incitar o preconceito de classe.
Todos e todas, pessoas físicas ou jurídicas, inclusive partidos políticos, podem e devem entrar na justiça quando bem entenderem. O PSDB entrou na justiça contra o PT. Não uma única vez. O PT, por sua vez, também já entrou na justiça contra o PSDB. A questão está no teor das acusações.
As representações do PSDB são exemplos claros que Dilma – ainda quando nem era, oficialmente, a candidata do PT a presidência da República – já estava incomodando eleitoralmente e politicamente à direita, leia-se PSDB, DEM e PPS, e por conta disso, à direita, já entendia – e agora mais ainda – que é preciso atacar, de todas as formas e de todas as maneiras, seja com discursos no parlamento, seja contra representações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e assim por diante, contra todos e todas (leia-se Lula, Dilma e o PT) que os estão incomodando.
Na propaganda partidária do PT, que foi ao ar dia 10 de dezembro de 2009, o partido apresentou à sociedade o seu melhor programa partidário, que eu me lembro. A propaganda partidária teve como objetivo mostrar as diferenças, de pensamento, de ações políticas partidárias e de governos. E se o PT, que é o principal partido da base do governo Lula, tendo participação direta, com sua atuação no Congresso Nacional e no governo federal, com o próprio presidente Lula e com os principais ministros do governo, e tendo ações, realizações e projetos para mostrar, é natural que se de visibilidade a esses projetos, ações e realizações. Ou seja, uma coisa é dar visibilidade, outra, diferente, é fazer campanha antecipada.
Já a acusação de “terrorismo eleitoral”, também não tem fundamento, pois o que foi dito no programa partidário do PT, não passa de uma verdade embasada em fatos de quando o PSDB estava no governo federal. Ou seja, nada foi inventado, apenas se disse à sociedade qual a lógica política que move o PSDB. Sempre, claro, embasando-se em fatos de quando o PSDB (des)governava o país.
Na acusação de promoção pessoal de Dilma, também não tem fundamento. Tanto o presidente Lula, que não é candidato nem pré-candidato do PT a presidência da República, apareceu no programa partidário do PT, partido do qual ele é um dos fundadores e filiados até hoje, como também apareceu a, então, Ministra Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, uma das principais ministras do governo Lula. Sendo ela, então, uma das principais ministras do governo Lula e tendo a responsabilidade de coordenar os principais programas de infraestrutura e de desenvolvimento do governo Lula e do país, ela tinha, tem e continuará a ter a possibilidade de aparecer no programa partidário do partido político que ela é filiada, no caso, o PT.
Além do que essa acusação do PSDB não ter coerência nenhuma, pois no programa partidário do PSDB quem mais e, sobretudo, apareceu foi o, então, governador de São Paulo, José Serra e o, também, então, governador de Minas Gerais, Aécio Neves. Detalhe: ambos estavam viajando por diversas regiões do país, em plena campanha para se ter mais “visibilidade”. Depois Aécio Neves veio a público anunciar que não iria mais disputar a indicação do PSDB para candidatar-se a presidência da República.
Como lhes falta coerência, eles partem para o tudo ou nada, para ver o que conseguem.
Quando o PSDB acusa, segundo a reportagem da Folha de S. Paulo, o PT de incitar o preconceito de classe, o PSDB, representando à direita, acusa o Partido dos Trabalhadores daquilo que eles fazem parte, que é ter preconceito e ódio de classe.
O que o PT fez, não foi nada mais, nada menos, do que explicitar para a população as diferenças entre o pensamento, as ações e as realizações do governo federal, quando era (des)governado pelo PSDB e aliados, e as realizações do governo federal governado pelo PT e aliados.
A propaganda partidária do PT, mais uma vez, não inventou nada, apenas baseou-se em fatos. E, como dizem, “contra fatos, não há argumentos”. Como eles não tem argumentos, eles atacam o Partido dos Trabalhadores de incitar o preconceito de classe. O que é um absurdo e uma destemperança por parte do principal partido de oposição ao PT e ao governo Lula. Uma coisa é deixar claro para a população as diferenças, outra é incitar o preconceito e o ódio de classe. Basta ver o que eles dizem, por exemplo, – e a campanha midiática cotidiana que fazem – contra as cotas, contra programas de transferência de renda, contra as demarcações de terras indígenas, contra o fortalecimento do Estado – por via de concurso público – que tem por objetivo atender todos e todas que precisam do Estado, seja com escolas públicas de qualidade, com acesso rápido e com qualidade ao atendimento emergencial em unidades de saúde e/ou hospitais credenciados pelos SUS. Por outro lado, eles fazem uma defesa descarada e intransigente do superávit primário em detrimento aos investimentos, e pelo fim da CPMF, que prejudicou financeiramente os recursos para o SUS, que é um sistema de saúde universal, que atendem todos e todas, sem distinção de conta bancária, etnia, religião, escolaridade,… por aí vai. Tudo isso demonstra o preconceito de classe, da classe dominante, no qual o PSDB é um dos partido membro de classe.
Em seu último texto, publicado em vários jornais, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, e um dos dirigentes nacionais de seu partido, o PSDB, e um dos principais aliados de José Serra, ataca, novamente e assiduamente, o presidente Lula, Dilma Rousseff e, claro, o PT.
Para FHC, “pouco a pouco, … as forças partidárias quase únicas infiltradas na burocracia do Estado” vão esmagar “os anseios dos que sustentam uma visão aberta de sociedade”. Nesse trecho, por exemplo, FHC diz, só que em outras palavras, que o PT não tem legitimidade e nem legalidade para indicar, muito menos, para manter, no governo, filiados do partido, que julgar necessário para desempenhar tarefas políticas de governo.
Para o sociólogo e ex-presidente da República, que hoje tem a maior rejeição entre os ex-presidentes, e que o PSDB sempre tenta esconde-lo, entende e defende a tese de que o PT, mesmo ganhando as eleições presidenciais com Lula, deveria governar, não com alguns membros do PT, mas do PSDB. Se Lula tivesse deixado o pessoal do PSDB, na estrutura do Estado, como FHC queria, aí não haveria infiltrados, pois, para o “Farol de Alexandria”, à direita, representada pelo PSDB, tem cadeira cativa no Estado, e que todos e todas que vierem a ganhar eleições e vierem governar no lugar deles, são infiltrados.
Porém, em eleições democráticas, reconhecidas pela população e pela comunidade internacional, quem ganhou as eleições, em 2002 e em 2006, foi o presidente Lula, que é do PT e eleito com a força da militância petista, de esquerda e progressista de nosso país. Portanto, quem foi e é eleito, de forma democrática e com reconhecimento internacional, tem legalidade e legitimidade para integrar o governo com membros de seu partido e de aliados, para poder executar o seu projeto. É o caso do governo do presidente Lula, que ganhou as eleições de forma democrática, tendo, então, o reconhecimento da população brasileira e da comunidade internacional.
Outro trecho, da mesma frase, diz – em outras palavras – que a esquerda – leia-se PT – “pouco a pouco” vão esmagar os “anseios” dos que “sustentam uma visão mais aberta de sociedade” (leia-se: o PT, pouco a pouco, irá esmagar todos aqueles que defendem e lutam por democracia e pelo mercado).
FHC nessa frase e nesse trecho, tenta distorcer – de vez – a realidade. Para ele, a esquerda, o PT, são mais que um perigo para a democracia e para a liberdade de negócio.
Para FHC, os civis e militares que, por exemplo, deram o golpe de 1964, que perseguiram, que torturaram e que mataram, que se apossaram da estrutura do Estado, eram democráticos e que a atuação deles tinha legalidade e legitimidade. Esses, como dá a entender FHC, não eram infiltrados, mas infiltrados são aqueles que ganham as eleições de forma democrática com reconhecimento da população e da comunidade internacional. Definitivamente, FHC é de direita, e como direitona é amante de golpes.
Se FHC não pensasse assim, não diria e nem redigiria uma inverdade e uma imbecialidade como a que escreveu. Mas o ex-presidente só não escreveu como convive e faz política com a classe dominante, e dentro da classe dominante, é aliado dos banqueiros e latifundiários, que é, sem dúvida, um dos grupos – dentro da classe dominante – mais reacionários da sociedade brasileira. E foram os banqueiros, o empresariado, os latifundiários, setores conservadores da igreja, que fizeram parte da aliança civil pró golpe de 1964.
A esquerda, Fernando Henrique Cardoso, foi o alvo do golpe de 1964, e, hoje, continuamos a ser alvos da direita – lado a quem você pertence. E somos seus alvos (à esquerda, o PT e o governo Lula) porque mesmo não fazendo – por conta da correlação de forças – as mudanças estruturais na sociedade, conseguimos mostrar para a população que é possível fazer mudanças, e que essas mudanças não podem parar e que é preciso caminhar nesse caminho – acúmulo de forças e conquista da hegemonia – para termos outra sociedade. Outra sociedade que vocês abominam. E que nós, da esquerda – almejamos.
Há, no entanto, muitos FHC pelo país, que invertem a realidade e tentam defender teses esdrúxulas e golpistas, sempre para o bem de uma minoria, no qual o rei é o “deus” mercado. E como o ambiente – mesmo tendo muita água para passar debaixo da ponte – não está favorável para os oposicionistas – é que eles deixam, cada dia mais, transparecer seu caráter antidemocráticos – ou seja, golpistas. (claro, cada um no seu estilo e forma)
Nas eleições de outubro, a população terá a oportunidade de escolher entre dois projetos – que é o que estará em jogo, e não nomes de pessoas que será ou não a(o) futura(o) presidenta(e) da Brasil. E outro fato que não poderá ficar de fora de qualquer consideração é o fato que a(o) futura(o) chefe de governo e de Estado, terá a legalidade e a legitimidade para implementar seu projeto. Seja um projeto de esquerda ou de direita. A população escolherá.

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