sábado, 29 de agosto de 2009

Medo de colocar filho no mundo? (Artigo)

Há muito tempo trabalho com crianças, adolescentes, jovens e adultos e o mundo sempre foi mais ou menos igual. Nos tempos dos impérios, também havia gente pensando que o mundo ia acabar a qualquer momento. Muitas comunidades tinham dúvidas se deveriam ter mais filhos por conta da conturbação em que viviam. Não são novas essas dúvidas de pais e de gente que se casa e se pergunta se quer ou não “colocar filho no mundo”.
De fato o mundo de hoje é mais fascinante que o mundo de outrora para alguns e menos para outros. A tecnologia, por exemplo, que deveria vir para ajudar as pessoas a viverem melhor, parece vir para desempregar, excluir ainda mais gente e destruir literalmente os recursos naturais, já que se perdeu o respeito por quase tudo.
É nesse mundo que vivemos, esperneamos, brigamos, sobrevivemos, morremos, matamos. É desse mundo que temos que dar conta. Mas parece que muitos estão a cada dia mais alienados e nem aí com tudo que vem acontecendo.
Percebemos, infelizmente, que a cada dia fica mais claro que os que têm dinheiro têm regalias, têm as leis a seu favor e pisam, debocham, desqualificam a todos os que questionam suas ações. Crianças e jovens ficam desorientados por conta do que assistem ao seu redor.
Ao estar em contato com a criançada, a juventude e muitos adultos, percebe-se que muitos estão longe de um mínimo de reflexão e são simplesmente levados pelas ondas do momento. Outros acham que tudo o que acontece é natural e não tem o que fazer. Outros ainda buscam fazer um contraponto, difícil, porque uma minoria que manda acaba manipulando a maioria que a acredita que as coisas são do jeito que são porque “sempre foi assim”, “é natural” e mais um monte de mentiras plantadas para deixar as coisas como estão, sempre beneficiando uma minoria. Ir contra essa lógica ilógica e portadora de morte é se arriscar, e se expor, segundo muitos, ao ridículo.
Muitas crianças, jovens e adultos parecem mais papagaios do que gente. Repetem o que ouvem. Decoram mas não pensam. Falam da boca prá fora. Por isso entendo que o desafio daqueles que educam é fazer as pessoas pensarem. Falta muita reflexão. O que muda o mundo não é a ação como muitos dizem. O que muda o mundo é a ação pensada antes. É a gente saber o que a gente quer. Até para fazer o bem é preciso pensar. Muitas vezes pode-se pensar que se está fazendo um bem e pode ser que se esteja fazendo exatamente o contrário.
Pois é! Ter ou não ter mais um filho!? Bom lembrar que os problemas do mundo apenas mudam de forma. Lembrar também que por isso mesmo as soluções precisam ser sempre criativas. Ainda a saída para tudo é a ternura, o amor, a sinceridade. Coisas que vão sendo esquecidas. “Endurecer sem perder a ternura”, já dizia uma figura que os donos do poder tentam desqualificar. É preciso denunciar as injustiças, as falcatruas, mas com humanidade. Punir e dar oportunidade de recuperação.
Os grandes lucros – sempre produto de exploração e roubo – precisam ser extintos. Os mecanismos que atiçam o individualismo precisam perder força. Precisam ser ditos, descobertos. Expondo a vergonha da exploração e todos entendendo esse mecanismo mentiroso e perverso que diz que pobreza é coisa natural, quem sabe a gente humanize a raça humana.
Os animais irracionais só buscam uma presa por instinto e para a sobrevivência. Fora isso, convivem muito bem. Teríamos que aprender com eles? O ser humano, diferentemente do animal, não precisaria matar outro ser humano para sobreviver, mas mata para se dizer poderoso, para dominar, para concentrar riqueza.
Quem sabe um dia a gente diminua o medo de “colocar filho no mundo”. Quem sabe a gente cuide melhor dos filhos de todos que já estão por aqui e de todos os que estão por vir.

Valmir Coelho Ludvig

Um comentário:

Helenice Priedols disse...

Adorei seu texto, Valmir, principalmente esse final:

"Quem sabe a gente cuide melhor dos filhos de todos que já estão por aqui e de todos os que estão por vir."

Quando pararmos de pensar tanto no individual e começarmos a pensar e agir no coletivo, acho que o mundo será melhor. (Ou pelo menos seremos pessoas melhores)

Abraço.