terça-feira, 27 de outubro de 2009

Puxando a camisa de Deus (Artigo)

Imagino Deus à vontade e um bando de puxa sacos puxando sua camisa para chamar a atenção.
Imagino muita gente ao redor e cada um fazendo força para mostrar que gosta e quer ter Ele bem perto. Imagino as igrejas, os atletas de Cristo, padres, pastores, fiéis, cristãos, muçulmanos, cada um querendo ficar pertinho do cangote Dele.
Em minha imaginação, lá pelas tantas a camisa de Deus está em frangalho. De tanto tanta gente puxar, esticou, já que imagino que Deus seja bem simples e não faz questão de malha de marca.
Daí olho, no meu olhar imaginativo, nem sei se existe essa palavra, mas sei que isso não faz a menor diferença para Deus, e vejo Deus fugindo da badalação, dizendo que não precisa nada dessa humilhação boba para querer agradá-lo.
Continuo imaginando aquela camisa ainda mais estragada, cada um agora tentando levar uma lembrancinha e disputando o maior pedacinho, para dizer que Deus “é mais meu” porque tenho o pedacinho maior.
Fico ainda imaginando, o que será que Deus está pensando dessas minhas suposições, bobagens, imagens, abstrações, imaginações?
De certo Ele fica lá no cantinho de seu pensamento pensando: “Pois é! Criei tudo e agora fica essa criatura que levou nove meses para nascer, pensando essas coisas. Seria melhor que tivesse fazendo algo útil”. Depois, imagino Deus, na sua infinita misericórdia dizendo para os que estão ao seu lado, que nem sei direito quem são esses, que “cada ser criado tem a liberdade de pensar, falar, dizer, imaginar e ocupar sua mente, desde que tudo o que pensa e o que faz não prejudique os outros”. E olha só que coragem a minha: colocar palavras na boca de Deus. E lá fico pensando de novo: Será que Ele tem boca?
Acredito que todos esses meus pensamentos e todos os pensamentos dos que gostam de pensar e se permitem pensar, supor, imaginar, devem estar protegidos por Deus. É sim! Acredito que Ele é amigo. Que Ele é paciente. Pode ser que tem gente que me lê, que não me entende. Ah! Mas Ele sabe direitinho o meu pensamento. Pensamento que nesse exato momento só pensa em escrever o que pensa. E que se dane quem não respeita o pensamento de quem pensa aquilo que dizem que não deve ser pensado. Penso! E pronto!
Se o que penso não agrada. Bem, daí já pode ser opinião, julgamento.
Muitas vezes lemos e não pensamos o que lemos. Tiramos conclusões antes mesmo de acabar o que lemos. Lemos pela metade. Lemos só o que concordamos. Abstraímos o que não nos apetece. E perdemos. Perdemos a oportunidade de conhecer o que não conhecemos. Nos precipitamos.
Imaginamos mas não escrevemos o que imaginamos. Perdemos e os outros perdem. Escrever só o que os outros querem ler, é relativamente fácil. Escrever, expor o que imaginamos já é um pouco mais difícil. Já estaremos sob o julgamento dos que não suportam ler o que dizem os que pensam. Porque uma coisa é pensar e outra coisa bem diferente é dizer o que se pensa. E também é verdade que às vezes é bom nem dizer. Se dissermos assusta e pode até nos por na cadeia. Porque a gente sabe que todo mundo sabe, mas não pode ser dito. Ou pode ser dito na rodinha, mas não pode ser dito e muito menos escrito o que verdadeiramente está se pensando.
Se o que penso não vale a pena ser lido. Que se use a página para embrulhar peixe. Com isso já fico contente. Já mostra que o que escrevi não foi em vão. Um peixe está sendo transportado para uma ceia. Um encontro. Uma reconciliação. Uma celebração.
Bem! Nem tudo que a gente escreve é em vão! A folha do jornal pode virar embrulho de peixe e gerar uma grande refeição.
Bom apetite a todos!
Valmir Coelho Ludvig

Em tempo: esse artigo foi publicado em jornal local
antes de ser cortada a coluna que escrevia semanalmente.
Não acredito que o corte tenha sido obra de Deus.

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